Naquela tarde eu até cantei para não sofrer, para não sentir solidão. Parecia que o mundo estava acabando... Mas com o celular na mão eu procurava saber o que movimentava o mundo para não acreditar nas conversas de quem andava falando que "o mundo parou". É! Raul Seixas voltou a cantar "o dia em que a Terra parou". Medo? Um pouco mas não aquele medo de morrer porque disso...ixxx! De que adianta. Outra coisa! Coisas minha, de pessoa que se importa até com os que não se importam. Fica em casa, não sai. Recomendações familiares. Não vou sair, to em casa, to trancada dentro de casa,. Ligo a TV para ver as notícias. Oh! Meu Deus! É o apocalipse! E eu aqui sozinha. Quer dizer, nem tão sozinha, porque tem um cachorrinho e uma gatinha que ficam o tempo todo me seguindo dentro de casa, se estou na sala eles também, na cozinha lá enxergo eles também. Os animais são sensíveis querem saber o que está acontecendo. Em determinado momento desabo em lágrimas e o cachorro só falta enxugar minhas lágrimas com as patinhas, mas a gata olha um tempo com os olhos arregalados e some de perto.
Naquela tarde, naquela noite...um dia após o outro e eu já nem sabia que dia era. Tinha que ficar em quarentena, em casa sem visitas, sem visitar ninguém. Tá! Fiquei! Ah! Eu não vou falar porque disso... não vou. Uf! Já passou! Que nada! Passou coisa nenhuma! Mas o mundo não parou, em nenhum minuto o mundo parou. As pessoas pararam um pouco, isto sim. As vezes acontece de ter que parar o que estamos fazendo, as vezes acontece de ter que fazer tudo diferente ou de não poder fazer nada, se bem que é meio esquisito não poder fazer nada, tem tanta coisa para fazer, ainda que seja só ficar limpando tudo que se vê pela frente, com água e sabão. Ah! Limpar, limpar! Bem assim! Será que foi só comigo que aconteceu? Dentro de casa eu limpava tudo que meus olhos viam, qualquer coisa, até uma agulha, um lápis, dos menores aos maiores objetos...até as paredes...Assim! Que coisa!
Não põe as mãos nos olhos, nem no nariz, nem na boca, lava bem as mãos, lava, lava. Poxa vida! Eu não tenho álcool gel...preciso sair, mas como? A farmácia está aberta e o supermercado também, padarias, minimercados...tudo bem. Vou e volto "num pé só" e já resolvo tudo e volto a me trancar dentro de casa. Sentimentos que me afligem. Então eu rezo, de joelhos, rezo por todos, por mim, pela minha saúde mental e física, porque eu sou importante nesta luta, todos somos, precisamos uns dos outros. Sempre pensei assim que precisamos uns dos outros, mas não é todo mundo que pensa assim. Tem pessoas que "não precisam de ninguém", muito menos de mim. Será?! Quem não precisa de mim saiba... eu rezo por você e acredito que minhas orações são poderosas. Eu preciso das pessoas, sempre digo. Eu sei...sinto bondades e maldades nestes tempos de agora mais do que nunca.
É! Pensa aí! Que tempos! Que dia é hoje? Estou vivendo 3 meses como se fosse um só. Enquanto escrevo vou organizando estes pensamentos um tanto bagunçados. Mas eu me acho nesta bagunça, tem umas roupas que preciso costurar, tenho um quadro para pintar, tem uns livros que eu preciso ler, tem um curso que preciso continuar e umas contas para pagar. Tenho que comer alguma coisa. Será que ainda tem alguma coisa para comer, não quero sair...Que coisa! Quem será que está me ligando? Vou fazer chamadas de vídeo. Como se faz uma live? A internet está lenta demais, isto pode ser pagamento em atraso...falar nisso...estou falando sozinha...digo para mim mesma "vai lá ver na caixa do correio...eu não". Depois eu vejo tudo isso...Que coisa! Que dia é hoje? Naquela tarde depois de abrir as janelas para deixar entrar o sol na sala deitei no sofá e olhei para o céu...o mundo é isso agora, uma janela para o céu. E tudo é azul! E a calma voltou. cantei! Cantei!
Então foram três meses, março, abril, maio que já está chegando ao final. Parece tanto tempo.
Ano de 2020. Que ano sério! Janeiro e fevereiro...o que é mesmo que aconteceu? Ano de 2020! Ano de 2020! Ano de 2020! Vamos! Vamos em frente! PAZ E AMOR! ESPERANÇA E FÉ!
Voltarei!
