sábado, 22 de outubro de 2016

No triste mundo dos presos e um olhar além.

Em visita ao IPF - Instituto psiquiátrico forense, com colegas da faculdade de Direito pude ver uma triste realidade para a qual preferimos fechar os olhos. Na chegada senti o coração apertado e desejo de retornar para casa.  Logo no primeiro corredor que entrei e vi um jovem "enjaulado" caminhando de um lado para o outro a lágrima rolou, não segurei, mas junto com esta lágrima também a dor saiu de mim. Um sentimento de impotência diante de uma realidade que não se pode mudar, ou se pode?
Caminhando pelos corredores e vendo pessoas presas, algumas sozinhas, visivelmente doentes, outras dividindo o mesmo quarto, mais livres (semi - aberto) abro bem os olhos para um mundo perdido. Não sei dizer se o mundo do lado de fora dos muros, ou do lado de dentro. Os dois. As pessoas ficam presas por medida de segurança porque cometeram crimes em consequência de doença mental e, ou vício de drogas,  e tudo junto e misturado ao que parece pioram as coisas. Mesmo dentro de um local cercado por muros e limitados em seus direitos de ir e vir sempre conseguem fazer o que desejam quanto aos vícios. Não há um controle 100%. Há um mundo lá dentro, um submundo onde de certa forma as pessoas se organizam para viver a vida da forma que conseguem dentro daquelas circunstâncias. Pessoas, sim, são pessoas, seres humanos. Seriam todos vítimas? As vezes penso que sim. Ou seriam todos como animais? Como saber o que se passa na mente dos seres humanos, ainda mais doentes. É triste ver. Saber. Melhor nem ver. Existe um mundo perdido dentro de cada ser humano onde somente um "olhar para fora" e para o outro é que vai trazer esperança de um resgate de valores. Ninguém está livre de nada neste mundo. Ninguém pode dizer "jamais" isso ou aquilo, pois na verdade nem sabemos do que realmente somos capazes. Para julgar a vida dos outros nem é preciso ser juiz, muitas vezes ficamos condenando sem nem saber ao certo o que de fato aconteceu. Um juiz quando julga limitado ao conteúdo de um processo, porque normalmente é assim, tudo nos "limites da lei" escreve a sentença e até liberta. Mas liberta de quê? Das grades e dos muros somente, porque pessoas doentes, viciadas, abandonadas, ignoradas pelo Estado não serão livres de nada, nem dos nossos julgamentos. E vão querer retornar para os quartos onde pelo menos dormiam fora das ruas. E como vai se dar este retorno? Não sei. Não sabemos, mas várias coisas passam pela imaginação, não é mesmo? E depois de pensar no que eu não queria "nem pensar", escrevo. E penso um pouco mais além. 

domingo, 16 de outubro de 2016

Dias de chuva, contos de fada e a busca pela verdade.

Numa tarde de domingo ouvindo os pingos da chuva e o chiado das àguas volto a pensar num romance sem fim, porque o tempo quando muda e vai transformando a paisagem brilhante de sol para um quadro mais cinza me transporta para um  mundo imaginário. Vejo cenas de um filme que ainda não existe, abro um livro que ainda não está escrito, vejo personagens que ainda não apareceram em cenas fictícias. Lembro do convento. Lembra? Quem já leu o que escrevi anteriormente vai lembrar daquela estória sem fim. Mas, mas...será que não é para ficar assim? Aqui, quando estou escrevendo "solta no espaço virtual" também estou tentando me superar. Algo me prende criando barreira quanto tem tantas coisas que quero dizer. Então entre uma leitura e outra procuro entender o que é a vida. A vida que se transforma em letras e chega até minhas mãos, diante dos meus olhos vejo aqueles que maravilhosamente escrevem e vivem. Aqueles que escreveram há dois mil anos, há duzentos anos, há séculos passados e que nos influenciam. A ficção e a realidade se misturam quando estudamos fatos passados, porque não temos certeza de nada, senão daquilo que nos ensinaram a acreditar. Então eu sonho com contos de fadas para não me preocupar com o que é a verdade. A verdade quem saberá?
Onde está a verdade? Lembro de uma aula em que o professor perguntava assim. Onde? Então um sábio levantou o braço e apontou para o céu. E assim respondeu.

Neutralidade axiológica

O que é axiologia? Para muitos é considerada "ciência dos valores". "Uma ciência dos valores é algo inexistente". Em leituras sobre  Max Weber (um dos fundadores da sociologia) estou a caminho para entender a neutralidade axiológica.

A história ensina-nos que o homem não teria alcançado o possível se, muitas vezes, não tivesse tentado o impossível (Max Weber)

Epistomologia

Conhecer o significado das palavras para melhor entendimento dos estudos é fundamental. Nem sempre lembramos o significado de tudo. Mesmo que um dia a"epistomologia" já tenha se apresentado hoje me pergunto: o que significa esta palavra? Então em minhas pesquisas relembro que é a "teoria do conhecimento" ou "teoria da ciência". Mas o que me faz pesquisar são os estudos em sociologia jurídica pela dificuldade que encontrei em compreender alguns textos. A escrita livre é diferente de quando nos limitamos a escrever sobre um determinado tema. Escrever requer prática e muita leitura, digo, escrever bem. Gosto de escrever mas assim na coragem de enfrentar as dificuldades e os obstáculos que a língua portuguesa revela quando queremos nos comunicar através da forma escrita. A linguagem falada é diferente e não é correto escrevermos da forma como falamos. A produção de um texto bem elaborado é difícil. Aqui no meu blog quero ter esta liberdade de me expressar sem medo do erro. Mas espero mesmo "com falhas" poder colaborar com um pouco de conhecimento e trazer assuntos que ajudem a refletir um pouco sobre nossos interesses,  sobre "coisas da vida".

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Ser criança

O dia das crianças passou. A minha infância passou. Que bom que passou. Nem sempre a fase da infância é formada por dias felizes. A felicidade infantil é inocente e pura, mas existe um mundo que nos cerca desde que somos tão pequenos que não é tudo bom. Na minha infância passei por momentos difíceis, mas de forma interior e invisível, sentimentos. Criança também sofre, tem angústias e medos, pensa, age, reage. Depois de ter passado pelo juizado de infância e juventude, num período de estágio na Defensoria Pública não vejo mais o mundo infantil com os mesmos olhos. Não digo isso em relação as crianças, mas a tudo ao redor delas. Ser criança é enfrentar um mundo de gigantes, tudo é mais longe, tudo é maior do que parece, e todos são nossos amigos. E assim, a criança chora e ri, tenta de tudo que pode e acredita ser bom para ela. E em tudo precisa de ajuda. A criança vai observando os outros, descobrindo espaços, brincando com o que dizem para ela ser brinquedos, sem medo de errar. Mexe no que não deve, brinca com o perigo sem saber que corre risco. A criança confia e sente falta daqueles com quem está acostumada quando eles não estão por perto. A criança tem esperança de tudo sem saber o que é esperança. Tem fé sem saber o que é fé. Quando somos adultos questionamos tudo e desconfiamos de quase tudo. Mas também, como ser criança? Se não somos mais. O adulto é e deve ser um adulto com todas as responsabilidades, com todos os compromissos, com toda compreensão possível por uma criança e por aqueles que estão vindo depois deles. Pelo caminho vamos tropeçar, mesmo na vida adulta vamos levar muitos tombos, porque estaremos sempre tendo que aprender. Mas o aprendizado adulto é mais consciente, as vezes nem tanto, quebramos a cara. As vezes um choro infantil está lá guardado no fundo do coração, por que um "choro infantil"? Porque as vezes guardamos "um trauma" mesmo sem se dar conta, isso está presente no nosso ser e se manifesta de várias formas, nem tão invisível, em todos os seres do mundo. Ser criança sempre somos, com tudo que nos fez feliz, com tudo que nos feriu, com toda a esperança e fé. A fé em nós mesmos porque se estamos aqui "ainda" é porque nos superamos e fomos protegidos, e com muito esperança porque é preciso acreditar sempre que tudo no mundo pode ser melhor para nós, para todos que nos cercam e para todos que virão depois de nós.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Jogo de palavras

A voz cai no silêncio 
quando o domínio me espanta
que posso dizer se não quero
discutir com a ignorância?
no muito saber também está
a treva impregnada no ser
no pouco entender há um jogo
de palavras para ensurdecer a idéia
que dorme entristecida esperando
encontrar uma saída
embaralhados de conteúdos
misturados com tudo
que se preserva
que coisa será essa? 
que não deixa caminhar
nem falar
 nem despertar
que coisa disfarçada de w, y e z
de um alfabeto grego abcd.

O riso escondido

Eu te vi a sorrir se de mim não sei
mas vi em teu riso escondido o 
que sabias de fato
e me perdi na ignorância e no
medo do teu malvado segredo
e quando tudo se iluminou
a lua de um céu escuro me fez
sorrir minguante
e escondi meu riso ao teu semelhante

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Um romance sem fim: "É pecado amar"

Na mesa uma pequena máquina de escrever me inspirava vontade de contar estórias inventadas. Uma máquina que comprei, minha primeira compra de "muito valor", 1982, por aí. Então era só sentar e escrever. Começar. Eu queria escrever um romance, uma estória de amor. ainda que fosse só para mim, mas já tinha um romance escrito, em caderno, toda uma estória. Lembro um pouco, devia estar na sexta-série. Mas também tinha um romance inacabado, da mesma época. O acabado tinha titulo de "Frases que ficaram" (com uma personagem que se chamava Carolina) e o inacabado foi assim: Imaginei um convento onde moravam moças que não tinham outro lugar para ficar senão um convento. Então uma delas tinha vontade de fugir do lugar para conhecer o mundo. Comentou com uma amiga sobre este desejo. E as duas combinaram de fugir do convento juntas. Para isso fizeram um plano e fugiram. Mas para onde iriam? Não lembro que nome dei as personagens, mas que seja Gabriela e Marília. Gabriela tinha um segredo. Mas precisava completar 18 anos para poder tomar uma decisão, o momento havia chegado. Foram para uma casa de campo, simplesmente foram, na época era desta forma que eu escrevia, as coisas aconteciam, surgiam. Lá estavam elas. Como entraram? Parte do segredo era a chave que Gabriela guardava sempre com ela. Entraram e foram descansar em seus quartos, Era assim, tudo já estava pronto e limpo, lindamente.
A casa era imensa, de se perder por corredores, entre portas e janelas, com escadas entre andares. No silêncio da noite Gabriela escuta um barulho vindo de alguma parte da casa. - Que será? O barulho era de máquina de escrever. Tinha alguém na casa "batendo máquina". - Quem seria? Pensou Gabi. E olhando para Marília perguntou: - Você escutou isso Marília? - Oh sim, que será? Gabi levantou-se e disse: - Vou caminhar pela casa e descobrir. - Não! Disse Marília. - Fique aqui. - Não! Disse Gabi - fica você e saiu. - Oh! Meu Deus! Suspirava Marília petrificada. Gabi saiu caminhando pé por pé procurando saber de onde vinha aquele barulho de máquina de escrever. De repente o silêncio. Gabi sentindo sede foi até a cozinha para beber água e achou melhor retornar para o quarto, Marília devia estar preocupada, mas quando voltou-se viu alguém. Assustada se escondeu, esperou e saiu caminhando na ponta dos pés para ver quem era aquele moço e o que estava fazendo na casa. Então viu quando ele entrou numa sala onde havia uma pequena máquina de escrever, sentou à mesa e começou a escrever. Gabi então perguntou: - Quem é você? O que faz aqui? De onde você veio? Como entrou?
- Fique calma! Eu já estava esperando por você? - Ãh! O quê? Como assim? Eu nem o conheço? Ela era assim queria fazer todas as perguntas a um só tempo e ter logo todas as respostas. Meu personagem "o jovem" que agora vou chamar de Junior, respondeu:  - Eu era amigo de seu avô, o dono desta casa, então é por isso que estou aqui, tenho a chave, mas vá descansar e amanhã conversaremos. - Meu avô! Você era amigo dele! Ah! Entendo! Amanhã conversaremos então você me explica melhor. - Boa noite! - Boa noite! Era mais ou menos assim o meu jeito de escrever na época. Gabi retornou para o quarto e contou para a amiga tudo, tudo que tinha acontecido. Junior era um famoso escritor que estava na casa de campo para melhor poder escrever. Ele estava escrevendo um romance. No dia seguinte as amigas acordaram e saíram a caminhar pela casa, curiosas em saber onde estava aquele misterioso moço. Derrepente Gabi sentiu uma mão em seu ombro e levou um susto tão grande, mas tão grande que desmaiou. Então Junior segurou-a nos braços enquanto Marília corria para buscar um copo de água. 
Relembrando, mas preciso parar agora. Esta estória ficou engavetada por um tempo. Tentei encontrar um fim, mas não lembro qual foi o fim. Esta estória está sempre comigo. Parei quando Gabi despertou e perguntou: - O que aconteceu comigo? Depois continuei tentando criar um interesse "mais amor" entre Gabriela e Junior. Mas, escrevi alguma coisa e deixei ficar sem fim. Finalizei um capítulo, mas não a estória, ainda não. Passaram-se muito anos. Mas eu ainda tenho as imaginadas cenas em minhas lembranças. Em dias de vento, como estes que tem acontecido agora, como neste dia de hoje, sempre lembro. E penso porque eu não consegui escrever mais. Então ficou um romance sem fim. Acho que eu já tinha falado antes aqui no blog, talvez de outra forma, mas bem isso. Quando escrevemos com idéia de livro, pensamos que tudo será lido, um dia. Hoje o vento me faz pensar trazendo lembranças de um tempo diferente, um tempo que para escrever tinha que ser "a mão" ou datilografar "sem erros" para não ter que começar tudo novamente. Hoje lembro de folhas amareladas, de máquinas pesadas, de lâmpadas fracas, lampiões e velas. E penso na maravilha de escrever para o "espaço" para mundos distantes, sem precisar de uma folha de caderno, basta escrever. Sem precisar de máquina de escrever, papel carbono, corretivos (em tempos mais modernos), mas desse jeito aqui, agora e depois num "publique-se" nunca mais ser uma folha amarelada no tempo, Lembranças nada mais. Lembranças que o vento me traz. E me sentindo livre para escrever, escrevo. Desse jeito, do meu jeito, nem tão certo, nem tão errado, meio sem jeito.

Ano de 2024 e silêncios

           Mais um ano para organizar a vida com novos planos. No início deste ano comecei pedindo silêncio para todas as minhas células bar...