domingo, 28 de agosto de 2011

Mortos e desaparecidos políticos

Ultimamente ando um pouco distante dos sonhos. Talvez seja a proximidade de completar meio século de vida. Começo a olhar o tempo que passou através da história do Brasil, da política, da minha própria existência. Lendo sobre a campanha da legalidade que aconteceu em agosto de 1961, pensei na época que vim para o mundo. Quando Brizola governava o Estado eu ainda não tinha nascido, mas estava quase chegando. Posso dizer que tive o privilégio de nascer num período em que um político se importava muito com a educação dos brasileiros. Associo sempre a política a "vida pessoal" de todos, nunca vi separação, nunca, nem mesmo quando eu era uma criança. Meu pai de ouvidos grudados no rádio e eu junto querendo saber o que estava acontecendo no mundo. ARENA e MDB sempre uma briga pelo poder, esquerda e direita do governo. Democracia, socialismo, comunismo, anarquismo e tantos outros nomes sei lá o quê.  Houve uma luta para  que João Goulart assumisse a vaga de Presidente da República e depois o golpe militar em 1964 afastou o presidente do cargo. Eu já tinha nascido, nesta guerra. Na inocência, crescendo e aprendendo assim como tantas crianças. Militares cuidando da segurança nacional, com medo que o regime comunista se instalasse no Brasil por influência de outros países. O que seria o comunismo? Eu era criança e só precisava viver, crescer e aprender. Não tinha motivos para me preocupar, queria bonecas para ficar brincando, papeis para desenhar, lápis para colorir, conhecer os caminhos que levavam para fora do portão de casa. Lembro de minha irmã, dois anos mais jovem do que eu, bebê, portanto minha memória já estava muito bem registrando tudo. E, no mundo "era necessário salvaguardar o Brasil contra o poder do comunismo internacional". No Rio de Janeiro acontecia "a marcha da vitória", em 2 de abril de 1964, garantindo apoio popular a deposição do Presidente João Goulart. Associações e sindicatos foram destruídos, a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) foi incendiada. Goulart buscou refúgio no Uruguai, morreu na Argentina em 1976. Castelo Branco (coordenador do golpe contra Jango) toma posse na presidência para completar o mandato de Jânio Quadros, que iria de 1961-1966. Com a constituição de 24 de janeiro de 1967, fez a ditadura militar ser legalizada. 1978 surge nova lei de segurança nacional, penas mais brandas aos "inimigos do Estado". Em 1969, devido a doença de um outro presidente militar, Costa e Silva, o Brasil passa a ser governado por uma junta militar, os ministros militares. Muitos estudantes, jornalistas e políticos foram presos, mortos e desaparecidos. 1974-1979 o Presidente do Brasil é o General Ernesto Geisel.. Novas regras são impostas a sociedade em 1978. No período do governo Geisel meu sonho era ser jornalista, mas eu não tinha noção do perigo. Vivi e cresci "sonhando", protegida por meus  pais. Estudei nos livros de história sem ver o que estava acontecendo na atualidade "daquela época". Os cadernos debaixo do braço, aprendendo bem português, matemática, geografia, literatura, inglês, dança, teatro, cantando músicas de Roberto Carlos, Vanusa, Wanderlei Cardoso, Antônio Marcos, Diana...e sonhando, sempre sonhando. E a política reinando. Estou fazendo uma retrospectiva de mim no mundo. Parece que estou chegando ao final de uma vida na face da terra, parece que estou chegando ao fim da minha vida no mundo. Escrevendo estou no mundo, me sinto viva, batendo o coração junto com a eletricidade que liga as máquinas. Escrevo para quem quiser ver, não mais no silêncio do meu quarto a luz de lampiões. Não tenho mais medo que "achem meus cadernos e descubram o que eu penso". Não tenho mais medo do que possa revelar um poema que invento inspirada na imaginação e que "pensam que pode ser um namorado escondido". É tão bom ser livre, mas "ainda vejo sinais de ditadura", sinais de "censura". Eu pago o preço por escrever, por falar, por corrigir o que acho errado. Mas é tão bom ser assim, é tão ruim também, alguém me entende? Sou sobrevivente. Sinto pelos que se foram do mundo tão jovens porque queriam se expressar, falar, sorrir, estudar, amar, viver, fazer política, ser livres DENTRO DE UM PAÍS MARAVILHOSO QUE É O BRASIL, tão maravilhoso que conquistar o poder é o que mais leva a conhecer as maravilhas até do mundo inteiro, mas que bom se todos pudessem VIVER EM PAZ, numa luta pacífica e natural pela sobrevivência. Na política atual...estou pensando. SOMOS GOVERNADOS, e quem disse que podemos governar juntos? Quem falou em democracia? O QUÊ? Eu não quero desaparecer...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ano de 2024 e silêncios

           Mais um ano para organizar a vida com novos planos. No início deste ano comecei pedindo silêncio para todas as minhas células bar...