quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Meu segredo

Estou com a Nina de Almeida. E aqui ao lado dela, escrevo. Nina gosta de ficar lendo as poesias que já escreveu, contos, crônicas, histórias. Recorda, comenta. Achei bem interessante um texto de autoria dela que estávamos lendo e transcrevo a seguir:
Meu segredo

Queria voltar a ser criança, a sonhar novamente. Queria voltar com todos os meus defeitos e procurar me regenerar para poder realizar o que não consegui por falta de experiência. Lutar por tudo que sonhei.
Queria voltar a acreditar em Papai Noel, jogar peteca, ioiô, sapata e ...um dois três, queimou! (eu sempre perdia). Queria meus irmãos a brigar pelo último pedaço de pão da travessa...e minha mãe batendo-me nas mãos e dizendo: "Deixa tua irmã, espoleta! Comes mais que todos!". Mas o pão não era pra mim e sim para as caturritas que eu, escondida, alimentava. Eu, como boa menina, pedia: - Mãe! Deixa-me desfazer a mesa? (eu nem conseguia dobrar a toalha, que era enorme).
Queria voltar à tapera dos coqueirais. Era ali que eu me escondia. Era uma aventura, ter meu próprio segredo. Eu saía para longe, onde os coqueirais levantavam os braços como bailarinos mostrando a sedução do seu espetáculo. Eu sempre comparava as palmeiras com o balé dos meus sonhos, e um dia seria uma grande bailarina (nos meus nove anos como eu sonhava...). Quando lá chegava, a minha criação de caturritas dscia em bando, posavam na minha cabeça, nos meus ombros, nos dedos e me acariciavam.
Ah! Este era o meu segredo, o amor pelas caturritas, as avezinhas verdes de minha infância. Já faz tanto tempo...
Nunca mais voltei aquele pedaço de meu solo sagrado. Para mim, aquilo era um altar, onde as orações surgiam em diversos idiomas. Elas falavam todas ao mesmo tempo, e eu com a palma das mãos cheia de farelos do pão que minha mãe pensava ser por mim devorado. O que ela não sabia era que eu colocava debaixo da mesa, e quando retirava a toalha, depois que todos saiam, de quatro pés ia juntando as migalhas que havia deixado cair disfarçadamente.
Um dia meu pai falou que iria pegar a espingarda e dar um fim às caturritas porque estavam estragando a plantação de milho. Então, gritei: - As caturritas da tapera NÃÃOOO! Todos me olharam e papai perguntou: - Por que não? Eu respondi: - Elas são o meu segredo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ano de 2024 e silêncios

           Mais um ano para organizar a vida com novos planos. No início deste ano comecei pedindo silêncio para todas as minhas células bar...