domingo, 27 de fevereiro de 2011

Naquela tarde

Todas as vezes que fui à Feira do Livro encontrei Moacyr Scliar caminhando por lá. Eu queria me aproximar dele, mas nunca tinha coragem, não sabia o que dizer para um escritor tão conhecido, tão elogiado. Eu, quem sou eu? Mas eu queria conhecer Moacyr Scliar de perto, ouvir a voz dele, saber o que ele pensava, de que forma ele conversava. Era assim em todas as Feiras do Livro, mas eu não me aproximava. Olhava de longe. Então nesta última Feira criei este blog, com ajuda do meu amigo. Mas eu precisava escrever, no meu espaço, alguma coisa, sobre alguma coisa. Eu queria SABER ESCREVER, então vi Moacyr Scliar caminhando na Feira do Livro, igual de outras vezes. Agora eu tenho um blog, pensei, tenho alguma coisa para dizer. E fiquei olhando o Moacyr. Ele tinha um encontro com o povo na hora do bate-papo no estande da Caixa Econômica Federal. Ele caminhou por perto, foi embora. Eu fiquei esperando, entrei no estande com minha máquina fotográfica pronta para um clic. Estava na hora, Moacyr Scliar chegou, tinha pouca gente naquele momento, mesmo sem jeito, em silêncio, bati uma foto de quando ele pegou um cafezinho para beber. Eu queria ver cada gesto, escutar cada palavra, quem sabe para "copiar em mim" um pouco de intelectualidade. Igual criança fiquei cuidando, querendo ficar perto, senti medo, então segurei meu caderno e comecei a escrever tudo que ele falava, todas as palavras, não parei até que tudo fosse dito e finalizado o bate-papo. Primeiro foram as fotos dos primeiros gestos, espontâneos, naturais, mas nenhuma palavra escapou dos meus ouvidos. Moacyr Scliar naqueles momentos era um anjo caido do céu, era ele quem ia preencher o meu blog, era ele o meu assunto preferido, a minha vontade de escrever, quem eu queria ser naquelas horas. Finalmente eu tive coragem para me aproximar. Então descobri que Moacyr Scliar era uma pessoa simples no falar, no modo de ser, sério ao contar sua história de vida, agradecido. Ouvi-lo me deixou realizada, foi especial, sei tudo que ele foi, mas guardarei comigo as palavras daquela tarde. Em relação a prêmios foi a melhor coisa que escutei: "Se nós aprovamos o que fazemos é a condição básica, é o melhor prêmio". Obrigada Moacyr Scliar, você sempre vai existir. Eu aprovo meu blog, e você foi um prêmio.
Naquela tarde na Feira do Livro me despedi sem saber. Sentirei falta de Moacyr Scliar passeando pela Feira do Livro. Há poucas horas fiquei sabendo que Moacyr Scliar faleceu nesta madruga.

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