sábado, 15 de janeiro de 2011

Moacyr Scliar (depois)

Do túnel do tempo, resgato o que  um dia comecei a escrever sobre Moacyr Scliar. Fiquei inconformada quando "o computador" apagou o texto que eu tinha digitado, mas encontrei no caderno que eu levava para a feira do livro algumas anotações, um tanto sem graça para o momento atual, mas a "essência" é o que importa. E o que importa? Para mim importa muito as pessoas que falam de si, de suas vidas, suas famílias, suas histórias. E Moacyr Scliar é assim. Quando chegou no stand da Caixa Econômica Federal, naquele período da feira do livro para o" bate-papo", eu estava esperando. Ele chegou bem tranquilo, tomou um cafezinho, depois sentou-se convidando as pessoas a se aproximarem. Então começou a falar sobre o que é um escritor, um "cara que escreve". Moacyr sempre gostou de medicina, disse que foi o medo da doença que o levou a ser médico, não o medo de ficar doente, mas o de ver os outros ficarem, seus pais principalmente. O que o levou a literatura foi uma motivação ligada a infância. Falou sobre o Bairro Bom Fim onde se criou, um bairro praticamente de imigrantes que vieram com o sonho de fazer a América (italianos, alemães, libaneses), seus pais eram judeus russos. Os imigrantes não tinham a menor idéia do que iam encontrar no Brasil, o que eles imaginavam era "um paraiso", disse Moacyr " a gente só sabia que no Brasil o céu é azul, o sol brilha". Vinham de um País onde o inverno era com temperatura a 30 graus abaixo de zero. Moacyr falou de uma vida muito pobre, no Bairro Bom Fim, onde moravam numa casa com forro de madeira cheio de ratos. Na faculdade de medicina não tinha medo de ratos de laboratório, estava acostumado, os ratos até "abanavam" para ele. A família fabricava móveis. De noite, hora de descansar, não tinha TV para assistir, nem dinheiro para ir ao cinema, então sentavam para conversar e contar histórias, o pai dele era conhecido como "um contador de histórias", famoso, mas não gostava muito de ler, porém a mãe era muito estudiosa, formou-se professora e era uma leitora fantástica. Moacyr é nome de personagem de José de Alencar, sua mãe desejava que ele se tornasse um leitor e também escritor. A livraria do Globo era onde compravam livros, e o dia de comprar livros, era o dia mais feliz da vida dele, livros de Monteiro Lobato, Érico Veríssimo..., queria comprar todos, pela vontade da mãe podia comprar quantos quisesse, podia faltar qualquer coisa em casa, menos livros. Começou a escrever primeiro historinhas infantis. Passou pela escola Julio de Castilhos, o primeiro prêmio foi do grêmio estudantil. Foi na faculdade de medicina que escreveu o primeiro livro. "A melhor maneira de escrever é ler", disse Moacyr Scliar, e ao comentar sobre prêmios que recebeu "se nós aprovamos o que fazemos é a condição básica, é o melhor prêmio". O papo foi longe, mas para não ser muito longa na minha escrita, foi parar por aqui. Ouvir Moacyr, me fez ver um pouco da minha própria vida, e também me deu mais coragem de me expressar. Sou de um "tempo antigo", também me criei sem televisão, sem luz elétrica, estudei na luz de lampiões, aladins e velas, o que tinha na época, sempre gostei de ler, meu pai me ensinou a ler antes de me matricular no colégio, aprendi soletrando manchetes de jornal, também ensinei do jeito dele para os meus filhos que foram para a pré-escola sabendo ler, funciona. Primeiro é preciso conhecer as letras, decorar o a,b,c e as vogais, depois é se divertir, brincando com manchetes por serem letras grandes. Com Moacyr Scliar eu vi mais do que nunca a importância da educação e da influência dos pais, não importa as circunstâncias em que nos encontramos, principalmente quando somos crianças, é preciso saber que o estudo é importante, escrever e ler, e incentivar os outros, ajudar a evoluir, transmitir o conhecimento, ainda que não seja muito, ainda que não seja de forma tão culta, cada um vai saber o que pode aproveitar. É pensando assim que escrevo e gosto de ser pública, ainda estou aprendendo a escrever, reconheço meus erros e vou me corrigindo pelo caminho, acho isto natural, mas quem me deu esta coragem é a próxima pessoa de quem vou falar.

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